sábado, 30 de janeiro de 2010

Primeiro post sobre o Diabetes (Eu e Ela)



"Ouvindo, pois, três amigos de Jó todo esse mal que lhe havia sucedido, vieram, cada um do seu lugar: Elifaz o temanita, Bildade o suíta e Zofar o naamatita; pois tinham combinado para virem condoer-se dele e consolá-lo. E, levantando de longe os olhos e não o reconhecendo, choraram em alta voz; e, rasgando cada um o seu manto, lançaram pó para o ar sobre as suas cabeças. E ficaram sentados com ele na terra sete dias e sete noites; e nenhum deles lhe dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande” (Jó 2:11-13).

"A prosperidade faz amigos.
A adversidade testa-os."


Agora é que a maternidade está começando de verdade.
Há pouco mais de um mês, no auge da felicidade, tomei uma rasteira da vida, e foi uma rasteira e tanto!!!

Ainda não me levantei, estou engatinhando, fazendo tudo o que é necessário, mas engatinhando.

A enurese noturna do meu filho parecia ser apenas resultado de estresse, até que em 1 dia e meio foi consumido um galão de 20 litros de agua mineral por uma criança de 7 anos e dois dias depois veio a cetoacidose.
Foram 3 dias de UTI, tudo aconteceu muito rápido, a ficha teve que cair pela sobrevivencia dele, a certeza veio com o primeiro teste de glicose, 580, Diabetes Tipo 1, as pernas bambearam, o coração apertou e as lágrimas rolaram e ainda rolam no silencio do meu quarto...
Mas Deus é grandioso demais, é inegável a existência dele no universo, no primeiro semestre nossa vida foi uma maravilha, no aniversário o Igor pediu uma viagem, acho que igual aquela não terá outra tão cedo, diversão pura, nenhum de nós queria sair da Fazenda. Era como se estivessemos sendo avisados o tempo todo, depois dele receber a faixa amarela no jiu jitsu, meu coração pedia para não leva-lo ao treino, nas semanas que antecederam a crise pior, eu não conseguia contraria-lo, bastava um "Eu não quero ir", meu coração pedia para não insistir.
Muitos não entendem, muitos criticam, muitos dizem que eu mimo demais meus filhos, mas aviso, a tendência agora é piorar, eu sigo meu instinto materno a risca.
Não me revoltei com Deus, embora meu coração fique partido e eu segure as lágrimas cada vez que ouço as perguntas: "Mãe, eu vou ter que tomar insulina o resto vida?", "Eu vou ter que comer de 3 em 3 horas o resto da vida?", "Porque que tenho que comer tudo?", "Eu não posso nem andar de bicicleta o quanto eu quero?".
Não tenho pena do meu filho, e não vou aceitar que ninguém tenha, ele mesmo se sentiu mal depois de uma visita:
-Mãe sabe o que eu acho que é coitado?
-Não.
-Eu acho que coitado é uma pessoa triste, e eu não sou triste, eu sou feliz.
-Eu também acho isso, mas algumas pessoas confundem as palavras, não sabe o que significa e saem falando.
-Elas não estudaram?
-É mais ou menos isso.

Quando eu choro não é por pena, é pela saudade da liberdade.
A liberdade de correr sem se preocupar com hipoglicemia.
A liberdade de comer sem ter que contar carboidratos.
A liberdade de passear sem ter que carregar sempre insulina, glicosimetro, saches de glicose.
Eu choro com os SE.... da vida. É um erro!!!

Sei que as coisas chegarão ao mais próximo do normal possivel, ele voltará ao jiu jitsu, voltaremos com as viagens, mas algumas coisas não acontecerão mais, dormir na casa de amigos por exemplo, só será possível quando ele tiver conhecimento total das reações físicas e de imediato ter autonomia para constatar e se medicar.
Graças a Deus, ele pode ter o melhor tratamento disponível, tem acesso a produtos alimentícios indicados que são em grande maioria mais caros que os convencionais e tem uma fome de vida e de felicidade de causar inveja a muitos adultos.

Hoje eu olho pra ele e analizando como ele reagiu e reage a tudo isso, não tenho mais paciência para ouvir ninguém a se lamentar da vida, principalmente aquelas pessoas que esperam de braços cruzados uma oportunidade ao sol, que reclamam de tudo, sem ter nada pra reclamar e sim a agradecer, que lamentam não ter dinheiro mas também não valorizam as coisas grandiosas da vida que não tem preço, um momento magico com um filho, um abraço, um eu te amo, uma caminhada num lugar bonito, a presença de alguém pelo simples fato de se estar perto de quem se ama.

Algumas coisas na vida não podem ser compradas elas só tem valor se forem doadas e incondicionalmente, algumas outras tornam o dinheiro um mero pedaço de papel, a cura do meu filho é uma delas, nem todo o dinheiro do mundo compraria, porque ela não existe. O tratamento dele é 60% cuidados, exercícios, vida regrada, amor, afeto, paz, 20% alimentação adequada e 20% medicação. Aí você me pergunta, mas se ele não vive bem sem a insulina por que o peso dela é só 20%? Uma criança com diabetes precisa dos 60% que eu citei, para que o restante do tratamento tenha boa aceitação e resultado.

Hoje, temos tudo que é necessário para que a chama da esperança de cura se mantenha acesa.

"-Mãe, eu já saí do hospital, já orei agradecendo a Deus por cuidar de mim, nós vamos orar por que agora?
- Vamos pedir a Deus, que ilumine um cientista e que ele encontre a cura pra diabetes tipo 1.
- Será que Ele vai me atender?
- Não sei, mas temos que tentar."

O texto inicial?????
Ahhhh.... é que os "amigos" sumiram, não sei se é medo de contrair diabetes (aviso que não pega), ou que eu esteja precisando de dinheiro, ou por puro egoismo mesmo...
Mas estou bem, muito bem!!! Nem de longe me sinto como Jó, mas ele realmente tinha amigos.
Uma vez li uma frase, acho que já citei aqui no blog, ela diz assim:
"Faça da sua ausência o bastante para que alguém sinta sua falta, mas não prolongue-a demais para que esse alguém não aprenda a viver sem ti. "

E assim a vida continua...
Um dia sempre descobrimos que não éramos tão importante assim na vida de alguém, aí esse alguém também passa a ter pouca importancia pra nós.

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