sábado, 21 de janeiro de 2012

Bomba de insulina: eu posso?

ADJ - Associação de Diabetes Juvenil

Congresso ADJ 2010 - Bomba de insulina: eu posso?
A opção pelo uso da bomba de insulina foi um dos assuntos de grande interesse do 14º Congresso da Associação de Diabetes – ADJ. Antes de apresentar a palestra sobre o tema, o professor da Unidade de Endocrinologia Pediátrica do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Dr. Durval Damiani, concedeu esta entrevista sobre alguns aspectos importantes para o uso adequado da bomba.
Foto: Milton Nespatti
Quando se fala em bomba de insulina, muita gente pensa logo num aparelho capaz de resolver todos os problemas para controlar o diabetes. É isso mesmo? Dr. Durval Damiani - Em primeiro lugar, devemos considerar que a bomba não precisa ser indicada a todas as pessoas com diabetes, pois é possível manter um bom controle da glicemia sem ela. A bomba é dispensável, por exemplo, para aquelas pessoas que conseguem controlar a glicemia sem nenhum problema, apenas fazendo as aplicações de insulina com seringa ou caneta, além de fazer a monitorização da glicemia com testes freqüentes e diários. Já para quem encontra dificuldades em controlar a glicemia, por diferentes motivos, o uso da bomba é bastante recomendável, pois ela age como uma ferramenta de administração de insulina precisa e programável durante as 24 horas do dia. Ou seja, trata-se de um método que funciona de forma muito semelhante ao pâncreas de uma pessoa sem diabetes.
Quer dizer então que a bomba é indicada só para quem tem problemas de estabilizar o controle da glicemia? Dr. Damiani - Não, o sistema pode ser usado também para quem tem um bom controle. Vamos pensar naquele adolescente que gosta de sair nas baladas, de passear com os amigos e quer ficar mais à vontade. A bomba também é recomendável para pessoas que se sentem incomodadas ou constrangidas em fazer aplicações de insulina com seringas e agulha. Sem dúvida que a bomba proporciona maior conforto e sensação de liberdade. Mas também, não adianta uma criança, um rapaz ou uma moça adotar o uso da bomba achando que isso vai liberar para o consumo desenfreado de doces e alimentos extremamente calóricos. Precisa ter bom senso, tem que continuar com hábitos saudáveis, pois aí sim o uso da bomba será bastante proveitoso.
O custo da bomba e dos insumos para seu uso é bastante elevando atualmente. Qual é a relação custo/benefício que este método pode proporcionar a quem tem diabetes? Dr. Damiani - Vamos voltar ao portador de diabetes que está sempre bem controlado. Neste caso, provavelmente a pessoa não terá problemas com as complicações do diabetes. Porém, aquele que tem grande dificuldade de manter a glicemia estável, certamente irá enfrentar tais complicações, como dificuldades na visão que podem evoluir para cegueira, problemas renais que exigirão tratamento de hemodiálise, dificuldades para o sistema circulatório que podem causar amputações e outras conseqüências graves. Diante desta perspectiva, o custo do tratamento destas complicações é muito mais caro do que o preço da bomba de insulina de seus insumos. Então, se levarmos em conta e se o objetivo é ter um melhor controle da glicemia, então vale a pena investir na bomba, pois este investimento compensará pelo que o paciente ganhará em qualidade de vida e prevenção das complicações. Ainda assim, volto a enfatizar que é possível conseguir todos estes benefícios sem a bomba de insulina, desde que se controle bem a glicemia, com alimentação programada, tratamento adequado com insulina, atividade física e monitorização freqüente da glicemia capilar. Logicamente seria impossível colocar bomba de insulina em todos os portadores de diabetes, pois realmente é um investimento caro.
Qual é o custo médio do tratamento com a bomba? Dr. Damiani - Um estudo realizado nos Estados Unidos concluiu que o uso da bomba de insulina representa um custo anual de cerca de 5.700 dólares. Já para as pessoas que fazem o tratamento intensivo com múltiplas aplicações de insulina usando seringa ou caneta, o custo médio anual fica em torno de 4 mil dólares, enquanto que o tratamento convencional com uma ou duas aplicações de insulina por dia custa em média 1.600 dólares por ano. Portanto, o custo do tratamento com a bomba de insulina é 3 ou 4 vezes mais caro que o tratamento convencional com uma ou duas aplicações de insulina com seringas ou canetas.
Qual a sua mensagem final para quem pretende usar a bomba de insulina? Dr. Damiani - Acredito que este seja um recurso muito interessante, mas não é imprescindível ao tratamento do diabetes, pois o paciente pode ter um bom controle sem o uso deste aparelho. Por outro lado, mesmo aquele paciente que mantém um bom controle do diabetes e queira usar a bomba, tudo bem, use-a, pois o método vai simplificar a sua vida.
Para finalizar, o que o Dr. Damiani aconselha a quem já usa a bomba? Dr. Damiani - Neste caso, a pessoa precisa continuar se monitorando direito e jamais deve pensar que a bomba faz tudo sozinha. A bomba é apenas um aparelho de infusão de insulina e ela só funciona direito se houver um comandante: a pessoa que a utiliza.


Autor: Milton Nespatti
Fonte: ADJ

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