Fui surpreendida com essa pergunta do Igor.
Nunca escondi dele a gravidade do Diabetes, que o controle é fundamental, mas acho que nunca tratei desse assunto como "doença", nunca o tratei como doente, até porque o diabetes não impede que ele tenha uma vida normal.Mas acredito que no fundo todos nós temos preconceito quanto a palavra, "DOENÇA", soa mal, dá a sensação que meu filho está mal, e na realidade não está, mas tem uma doença incurável que se não falarmos ela não aparece, não é descoberta.
Ficamos horas conversando, no banheiro, é que a pergunta surgiu quando ele sai do banho, sentei no vaso sanitário e comecei a lhe explicar o que é Diabetes, acredito que diante da pergunta já tenha maturidade para ouvir tudo, ele sempre soube que Diabetes não tem cura que algumas pessoas morrem por não controla-la, que o pâncreas não funciona, que precisamos injetar insulina todos os dias, mas não sabe o que é uma doença cronica e auto imune.
Vi seus olhinhos assustados quando lhe respondi que ele tinha uma doença, nessa hora nos perdemos nas palavras, queremos encontrar as menos impactastes, mas elas fogem.
Expliquei lhe a diferença de doença contagiosa, de deficiência e fui em detalhes ao Diabetes.
É uma doença silenciosa, fui taxativa:
-Você tem uma doença, devemos ter cuidados para ela não avançar, mas ninguém pode considerá-lo doente nem aponta-lo como um, o que você tem não interfere em nada em ser uma pessoa como todas as outras.
De repente entra o pai e pergunta o que fazemos no banheiro, expliquei-lhe as duvidas do Igor e lá vem ele:
-Meu filho, você não é doente, você não tem nada, só é uma criança que precisa comer melhor que as outras, tem que ser um desportista, é que alguns órgãos do nosso corpo não serve pra nada, o seu pâncreas parou, é só aplicarmos insulina que tá tudo certo, tira isso da cabeça, você não é doente.
Mamães, não é culpa deles, é a genética.
Os homens sempre encontram uma maneira mais confortável a eles de ver as coisas, alias o bem estar deles depende do que os olhos vêem, é assim na escolha das namoradas, do carro, de tudo ao redor deles.
Diabetes é uma doença que ninguém vê, e muitos pais demoram a se situar, aceitar, não temos muita paciência com isso, mas preciso ter...
Apesar de continuar a ter essa visão, depois de ter sido alertado pelo Dr Paulo a respeito da divisão de tarefas, e eu de confiar nele, tem se mostrado interessado. Hoje a insulina da manhã ficou por conta do papai, sei que o Igor fica mais apreensivo, mas ele também precisa confiar que o pai vai fazer a coisa certa. Na primeira aplicação sozinho papai não esperou aqueles segundinhos e a insulina voltou, CALMAMENTE, expliquei-lhe da necessidade de espera, milagrosamente não me irritei, e hoje as coisas parecem ter corrido bem, só me certifiquei quanto a cor da caneta, é... ainda tenho medo dele aplicar a insulina errada.
Não fui no quarto acompanha-lo, cada um tem seu modo de lidar com as coisas, a caneta da Lantus está com os números apagados, então vamos pelos cliks (ganhamos uma caneta maneiraça do Dr Paulo, é digital, vamos usar no próximo refil), ele deve ter se perdido nos cliks porque o Igor comentou que ele aplicou insulina no vento e depois nele, temos que fazer isso quando não temos certeza dos 6 clicks.E assim vamos, mesmo com 10 meses de diagnóstico, ainda nos adaptando e ampliando os cuidados com o Igor para outros membros da família.
Hoje pela manhã recebi o email da Tribunal, o Juiz deferiu o bloqueio on line, resta saber apenas em quanto tempo a verba estará em minhas mãos.